O verdadeiro totó podia ser aquele que se engasga a falar, mas que tem bom fundo. O verdadeiro totó podia ser aquele que nem sequer fala, que engasga os pensamentos só de pensar em falar, mas que tem bom fundo. O verdadeiro totó podia ser aquele que debita coisas que leu aqui, ali e acoli para impressionar, mas que tem bom fundo. O verdadeiro totó podia ser aquele que crê veementemente que a beleza é relativa, ainda que tenha bom fundo. O verdadeiro totó podia até mesmo ser aquele não sabe ler mapas, que não sabe aparafusar, brocar, rebocar, que não distingue preto de azul marinho, mas que tem bom fundo. O verdadeiro totó podia ser aquele que não sabe fazer estacionamentos paralelos ao passeio, que tem de dar pelo menos duas voltas à rotunda para conseguir seguir o seu caminho, mas que tem bom fundo. O verdadeiro totó podia ser o pastor de ovelhas de castanheira de midães que nunca viu o mar porque viagens rodoviárias o deixam mal-disposto, mas que tem bom fundo. O verdadeiro totó podia ser aquele que se deixou engordar quinze quilos no espaço de dois anos e que, por causa disso, agora arrota alto, mas que tem bom fundo. O verdadeiro totó podia ser aquele que insiste que a melhor cerveja do mundo é a Super Bock e que não há melhor compositor no mundo que o Mark Knopfler, mas que tem bom fundo. O verdadeiro totó podia ser aquele que tem medinho de passar vergonhas, o que o leva a deixar de fazer coisas, e que se constrange com pouco, mas que tem bom fundo. O verdadeiro totó podia ser aquele que de tudo faz para que todos à sua volta gostem de si, mas que tem bom fundo. O verdadeiro totó podia ser aquele que, às vezes, quando tosse, lhe sai a gosma das entranhas, mas que tem bom fundo.
Mas não.
O verdadeiro totó é aquele que não for ver a exposição do Tapiés que estará até dia 25 de Fevereiro do corrente na Galeria Fernando Santos à Rua de São Paulo, mas que, no fundo, até há-de ter bom fundo. Duvido, mas há-de ter bom fundo.