.Querida
SaraAceito e fico-te extraordinariamente agradecida. Não terás por aí um gmail? Over and out.
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Teique um e meio – Sapatas de que até gosto
[Cena cinco – Cássia Eller: all the lonely people, where do they all come from?]
(Existe, entre nós, um instrumento musical muito curioso, extraordinariamente composto por uma espécie de lata de silicone ampla e cilíndrica, à qual está embutida uma extraordinária corda de alumínio, que fica, em relação à lata, de fora, como se de uma extraordinária cauda se tratasse, e que emite um som que faz lembrar aquela ventania que aparece extraordinariamente antes da trovoada. Gostava muito de saber o nome deste extraordinário instrumento. No outro dia, inclusivamente, estive com um nas mãos sem nunca o chamar de nada. Ora, não se admite. Por esta razão e como tal, chamar-lhe-emos, neste texto e excepcionalmente, de ringustá. Muito obrigada.)
Sábado passado, enquanto ouvia a extraordinária Marisa Monte no Coliseu, lembrei-me três extraordinárias vezes da Cássia Eller. Passei o resto do fim-de-semana a tentar justificar este extraordinário feito, até porque, vejamos: uma tem voz de estorninho do Cais do Sodré (aqueles do maradona) outra tem voz de búfalo do Botswana.
Está certo: a primeira tem a extraordinária beleza de um boi subnutrido, ainda que uma graciosidade de flamingo da baía do Seixal; e a segunda reveste-se de (que extraordinário fenómeno de metaforização este exemplificado por esta extraordinária sequência sintáctica do português) uma extraordinária beleza de um frankenstine da Suíça e da graciosidade de uma extraordinária pedra da calçada. Ambas são cantautoras (que extraordinário fenómeno morfológico exemplifica esta extraordinária unidade lexical do português) brasileiras, mas, enfim, existirão, provavelmente, mais de trezentas mil cantautoras (lindo, lindo) brasileiras, daquelas que, como estas, andam sempre, de forma extraordinariamente extraordinária, de um lado para o outro com todos aqueles instrumentos, do ringustá ao cavaquinho, passando pela gaita de beiços e viola-baixo, dando ainda uma perninha no reco-reco e no triângulo. Andam sempre naquela agitação do tira e põe, salta daqui para ali, manda a gaita para o chão, saca o ringustá e poisa-o em cima do violinista … cansativas, portanto, mas muito parecidas.
Ah, muito importante e além de que: uma está viva e a outra está morta. Não lembra ao diabo, portanto.
Bom, ainda que sem vislumbrar justificação possível para tal extraordinária lembrança e cuting the fucking crap, o facto é me lembrei da Cássia Eller porque a Cássia Eller é a última grande sapata desta grande saga que se reveste de (meu Deus, isto nunca terá fim), de facto, muita pertinência fisiológica. Seja o que Deus quiser, vamos a ela.
Da Cássia Eller nada sei. Nada sei ou quase nada, até porque não lhe conheço nenhum caso amoroso digno de revelação, nem nenhuma cusquice por aí além. A não ser que já não está entre nós. Crê-se que, provavelmente, por negligência médica. Diz-se por aí, que eu não sei de nada. Não sei nada da Cássia Eller, agora que analiso a coisa em profundidade. Então porquê incluí-la neste grande estudo comparativo de grande pertinência fisiológica?
Ora: a Cássia Eller não é a única a olhar o céu, mas quase: foi a única a conseguir fazer a melhor homenagem ao tema Eleanor Rigby. Sim, sim, sim, sim, sim. Fez a melhor – de longe! – versão deste grande grande grande sonoro. Só tenho muita pena de não ter um sítio na Internet onde possa alojar a música e pô-la a cantarolar ali no gira-discos sebem. Mas, contudo e não obstante, se alguém desejar possuir (de mais, esta unidade lexical utilizada neste contexto deveras) esta grande, extraordinária e única versão, faça o favor de ma pedir.
De maneiras que cá ando outra vez… e tal…