Hoje sonhei que eu e o mô iamos apanhar um avião para muito longe. Sonhei que o mô se havia lembrado de que tínhamos de ir para longe, para o outro lado do Oceano, bem longe, fazer sabe-se lá o quê, mas obviamente contra a minha vontade, claro. Seria São Paulo? Buenos Aires? Seattle? Comprámos os bilhetes e eu sofri muito. Em frente à senhora que nos estava a vender os bilhetes, supliquei ao mô para que não gastassemos dinheiro nisto, que eu não posso ir para longe, porque tenho muito medo de morrer num avião. E também não gosto nada de poluir, e, afinal, andar de avião polui. Ainda assim, comprou, porque os medos são para ser enfrentados e correrá tudo bem, afinal os aviões não caem. Céus, mais uma tortura, mais um suplício, mais de dez horas seguidas a fazer exercícios de justificação da garantia de que o avião não cai. Enquanto esperávamos para embarcar, começou a formar-se no céu limpo e cor-de-rosa (o céu de final de tarde com 29 graus, como ontem, em Lisboa) uma nuvem em forma de tufão. Consegui perceber que o que se estava na realidade a formar era uma nuvem de meteoritos de gelo. Cristais de gelo todos numa só nuvem suspensa no meio do céu. Eis que começam a sair da nuvem disparados os meteoritos de gelo , a uma velocidade supersónica. Trau, trau. Lá caiam, fazendo buracos na estradas, acertando pessoas, mas nunca matando. Sou zeus! Sou zeus! Estava com um bocado de medo de apanhar com uma coisa daquelas na cabeça, confesso, mas conseguimos escapar, uff. «É capaz de os voos serem anulados, não?», disse eu. «Não sei, deixa cá ver», disse ele. O «Não sei, deixa cá ver» mais desagradável – digamos assim – que ouvi na vida .
No mês que vem, vou ver os Pavement (cof cof) a Londres. Deixa cá ver.