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Na quinta-feira passada, estávamos nós, eu e o meu marido, a subir o Etna, já quase a chegar ao ciminho, quando aconteceu uma coisa extraordinária: começa a tocar na rádio o Last Goodbye, do Jeff Buckley. Ficámos caladinhos a ouvir; eu aproveitei para registar o momento em vídeo, e lá continuámos a subir. Ora víamos a Catânia, ora víamos o fuminho a sair do vulcãozinho; ora Catânia, ora fuminho. Catânia; fuminho. Sempre com o Last Goodbye de fundo. Obviamente, não fomos até à cratera a que se tem acesso de teleférico. Na noite anterior, de quarta para quinta, sonhei com um amigo que não vejo há seguramente cinquenta anos, o Sérgio, irmão do Hugo mecânico. Sonhei que o Sérgio era agora cabeleireiro e que estava muito feliz com o seu novo salão. E estava mesmo com muito bom aspecto. Por acaso até tinha de ir dar um jeito a este cabelo que me faz cabeça de morteiro e então fui ao cabeleireiro do Sérgio, não é tarde nem é cedo. Chego lá e o espanhol que era lá o top dos estilistas de cabelos, e que ia a passar no hall de entrada, pára à minha frente, olha-me nos olhos e depois na cabeça de morteiro que está à sua frente e dá-me uma cortadela artística na franja, como quem decide intervir, sem eu ainda lhe ter explicado o que queria. Sem ter pousado a carteira sequer. A coisa ficou mesmo horrível. Desatei a chorar, o espanhol à rasca, peço o livro de reclamações. Ninguém me quer dar o livro de reclamações, decido chamar a polícia, a polícia não vem, estou angustiada. O Sérgio - que é dele? -, nunca mais o vi. Obviamente, não fomos até à cratera a que se tem acesso de teleférico.
Na quinta-feira passada achei que era possível que toda a semana passada e alguns dias da anterior nunca mais acabassem. Hoje aqui estou eu, pronto. Pronta para responder à corrente que a Helena me passou. Dias felizes, dias felizes.