Sexta-feira, 28 de Outubro de 2005

Gripe das Aves I

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Além do benefício da dúvida, outra péssima invenção do homem foi a expectativa. A expectativa destrói amizades, paixões, namoros, noivados, casamentos, empregos, aquisições quase certas de produtos de supermercado e vestuário, aquisições quase certas de carros, de casas… enfim, é uma destruidora nata. Destrói, inclusivamente, filmes. Bons filmes. Muito bons filmes, como é o caso do Last Days, do meu querido Gus Van Sant. Provavelmente, o melhor filme deste ano. A expectativa, essa, só não destrói é a maldita Gripe das Aves. Red Alert, óbvio.

Bom, mas Gus Van Sant, mesmo sabendo estar rodeado de expectantes, decide realizar um maravilhoso exercício estético cuja inspiração seria os últimos dias do Kurt Cobain. Arrojado, o senhor. E acho muito bem. Resultado inequivocamente esperado: malta descontente a torto e a direito, porque ficou sem saber tanta coisa da vida do homem, que até queria saber, porque foi um ícone, e os ícones não sei quê, tem de se saber o que é que os ícones fizeram e tal, porque é mesmo assim. E os planos, ai os planos, meu deus os planos…ai, que horror. Acontece que o filme não era sobre o Kurt Cobain e não há nada melhor que, numa segunda-feira à noite, ir levar com os planos, as construções, as sequências, as técnicas, a beleza e a tranquilidade interior proporcionados pelo Gus Van Sant, perdoem-me. O filme era sobre uma quantidade de coisas que o Kurt Cobain bem poderia, e pôde, representar. Tinha lá o homem, sim senhor, e quanto a isto não há nada a fazer, mas não o é o busílis, a meu ver.

A meu ver, o busílis é aquela cena em que a personagem principal desfalece em câmara lenta ao ouvir e ver os Boyz II Men na televisão, são as cenas em a personagem principal grunhe e é a cena em que vemos a alma nua da personagem principal subir escadote acima – um final poético que ficará associado ao indivíduo menos poético do século XX: Kurt Cobain. Não vejo nada de mal nem de mau neste filme. Nada mesmo.

Nota máxima para estes Last Days. Era isto que tinha para desabafar. Agora vou ao Cais do Sodré ver os estorninhos.
publicado pela batukada às 17:30
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